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Uma breve visão sobre a logística na América Latina

por set 3, 2020iSend, Logística, TMS

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Recentemente tive a oportunidade de atuar em uma posição na qual a gestão logística do negócio na América Latina estava sob minha responsabilidade. Tive o privilégio de participar do projeto de abertura, e posteriormente da operação, de Centros de Distribuição na Argentina, Chile, Peru, Colômbia e Panamá.

Foi muito interessante vivenciar o mundo da operação logística em cada um desses países, podendo observar diferenças curiosas e semelhanças surpreendentes em relação ao que temos no Brasil. A ideia desse artigo é compartilhar um pouco do que conheci nessa jornada.

Claro que todo o conteúdo exposto tem um viés da minha experiência e de forma nenhuma é uma generalização. Ainda assim, acredito que seja possível, nas linhas abaixo, conhecer um pouco mais da região.

Argentina (logística de produtos de qualidade e marcas de primeira linha)

A Argentina possui algumas situações paradoxais. Ao mesmo tempo que possui um dos ambientes de negócios mais complexos da região e uma situação econômica delicada, o mercado consumidor ainda mantém um certo vigor. O consumidor Argentino valoriza produtos de qualidade e marcas de primeira linha, o que gera um mercado amplo e de alto ticket médio.

Dado o tamanho da economia e da população, o mercado consumidor é um dos principais da região. A estrutura logística do país está defasada, mas funciona bem.

Tive a oportunidade de visitar diversos Centros de Distribuição, dos principais operadores logísticos globais. Mesmo nesses operadores de primeira linha, os prédios e estruturas são antigos. Por outro lado, a mão de obra é muito bem qualificada.

Em todas as instâncias, desde a gerência da operação até a equipe do CD, sempre fomos surpreendidos positivamente com a qualidade dos profissionais que nos relacionamos por lá. Isso faz com que o Centro de Distribuição funcione muito bem.

Em termos de transporte, o tema no país é um pouco mais simples que o Brasil porque um grande volume da economia é movimentado em uma região pequena, próxima a Buenos Aires. Saindo dessa região principal, não há dúvida do que fazer: deixe a mercadoria em uma transportadora que eles se encarregam de fazer o transporte fracionado.

São geralmente volumes muito pequenos que vão para regiões muito distantes. Assim como o Brasil, a matriz tributária é complexa, trazendo enormes desafios de sistema para o processo de faturamento.

Chile (condomínios de Centros de Distribuição)

O Chile há anos vem apresentando um crescimento econômico importante, especialmente no critério de PIB per capita. Esse crescimento fomentou o desenvolvimento de operações logísticas impressionantes.

Há condomínios de Centros de Distribuição similares aos que vemos nos países desenvolvidos, grande parte deles muito novos. Percebe-se alto grau de planejamento e busca de excelência, desde a jardinagem do centro de distribuição até a estrutura dos prédios e os equipamentos.

O país é um dos mais tranquilos da região em termos burocráticos. Entre a chegada de um navio no porto e a chegada da carga ao CD, se leva em média 3 dias. O processo de faturamento e relação com o governo também é simples. A malha de transporte, assim como comentado sobre a Argentina, é bastante concentrada.

Há poucas entregas fora da região de Santiago. Os varejistas no país são bastante sofisticados em termos de gestão de seus negócios. Algumas redes de lojas de departamento dominam o mercado.

Essas empresas são exigentes em termos de processo de entrega, e esse é um ponto um pouco trabalhoso das operações voltadas ao varejo.

Colômbia (desafio do tempo de transporte em sua logística)

A Colômbia vem mostrando uma grande evolução em termos de organização econômica e social nas últimas duas décadas. Superadas algumas questões importantes do passado, o país entrou em uma rota de crescimento estruturada e sustentável.

O país possui mão de obra ampla e qualificada, o que, junto com outros fatores, vem tornando o ambiente de negócios cada vez mais dinâmicos. Em termos de operação logística é um país bastante complexo em termos de transporte. Algumas zonas do país ainda apresentam alto índice de insegurança, especialmente nas áreas de florestas e fronteiras. Isso exige importantes investimentos em recursos de segurança, como escoltas e dispositivos anti-roubo.

Em termos de processos governamentais, a Colômbia ainda é um pouco mais complexa que o Brasil. Muitos processos que já foram simplificados pelos últimos governos por aqui ainda demandam bastante energia por lá. Uma questão curiosa é sobre a malha de transporte.

A Colômbia está localizada no trecho final da Cordilheira do Andes, em um seguimento das montanhas no qual elas se dividem em três ramos. Isso torna o território colombiano bastante montanhoso e tem um impacto relevante na malha de transporte.

Para quase qualquer destino, as estradas são curvas, com muitas subidas e descidas. De Bogotá a Medellin, as duas principais cidades do país, a distância é de 418 km, mas o tempo da viagem de carro é próximo a 10 horas. Isso se repete em quase todo o país, tornando os tempos de transporte de carga bastante amplos.

Peru (concentração de negócio em uma única região)

O Peru também é um país que vem de um ciclo positivo de evolução nos últimos anos. A economia vem crescendo com vigor, transformando de forma aparente o ambiente social e de negócios. Ainda assim, é uma economia pequena e a renda média da população é baixa. Uma das consequências desse cenário econômico é uma estrutura logística bastante limitada.

Há poucos centros de distribuição e, no geral, eles são antigos. As operações funcionam bem, mas percebe-se que em alguns players há falta de mão de obra qualificada. No transporte a distância não é um desafio, dada a extrema concentração do negócio na região de Lima.

Talvez seja, entre os mencionados até aqui, o país mais concentrado em torno de sua capital. A complexidade no transporte passa um pouco pela falta de alternativas de transportadoras de qualidade, e um pouco pela questão de segurança.

Assim como na Colômbia, há gastos relevantes com gestão de risco.

Panamá (zona livre de impostos)

O Panamá é um caso bastante interessante em termos de estrutura logística. Praticamente não há distribuição interna. O país é um grande hub de cargas que são recebidas de diversas partes do mundo e distribuídas para outros países das Américas.

A condição de Zona Livre de Impostos, associada a uma estrutura operacional completa, a uma localização geográfica super estratégica e às facilidades do Canal do Panamá, tornam a operação de movimentação de mercadorias por lá bastante simples.

Há uma quantidade enorme de Centros de Distribuição, muitos deles antigos, mas alguns bastante modernos e eficientes.

No Panamá pode-se encontrar qualquer tipo de CD que se queira. Para quem tiver a oportunidade e gostar do tema, a visita ao Canal do Panamá é bastante interessante.

Trata-se de uma obra espetacular e uma das estruturas logísticas mais importantes do mundo (ou talvez a mais importante).

E no Brasil?

Recomendo a leitura do artigo 3 décadas depois… e como está a Gestão de Transportes?

Espero que esse artigo tenha gerado alguns bons insights, obrigado pela leitura.

Por Eduardo Freme
Country Manager for Colombia, Central America & Caribbean